segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Onde fica?

O município de Mimoso do Sul está localizado no extremo sul do estado do Espírito Santo, fazendo divisa com o estado do Rio de Janeiro. É lá que encontramos o pequeno e valoroso distrito de São Pedro do Itabapoana, lugar que exala história e memórias.

Localização - Fonte: Arquivo Pessoal, 2013.

HISTÓRIA - Origem e contextualização com a história do Espírito Santo

A região onde São Pedro do Itabapoana se situa pertenceu à capitania de São Tomé, doada a Pero Góes da Silveira, que abrangia o que hoje corresponde ao sul capixaba e norte fluminense.


Segundo Mosé (2009, p.107), os primeiros 300 anos de colonização do Espírito Santo foram marcados por constantes batalhas entre brancos e índios. O maior sucesso neste processo de colonização, até então, foi da Companhia de Jesus, que formou as vilas mais importantes do estado ao longo do litoral. No entanto, de acordo com Pereira (2009, p.15), a expulsão dos Jesuítas, em 1760, paralela ao esgotamento do ouro em Minas Gerais, fez com que muitos buscassem uma nova solução, e assim a atividade cafeeira ganhou força e territórios e, com o tempo, o extrativismo cafeeiro chegou ao Vale do Itabapoana.


Igreja de São Pedro do Itabapoana - Fonte: Arquivo Pessoal, 2013.

HISTÓRIA - Consolidação

Com o crescimento da região, através de um decreto em 1890 é criado o município de São Pedro do Itabapoana, com o nome de Monjardim, cuja sede havia se tornado a vila que levava o nome de São Pedro de Alcântara. Posteriormente ambos, município e vila, passam a se chamar São Pedro do Itabapoana.


Os anos entre 1890 e 1930 formaram o momento de glória de São Pedro do Itabapoana, período em que a cidade era próspera, chegando a ser mais populosa que Vitória, a capital do estado. Segundo o livro elaborado pela Secretaria de Estado da Cultura e pelo Conselho Estadual de Cultura, intitulado Patrimônio Cultural do Espírito Santo, São Pedro do Itabapoana possuía uma enorme reputação de centro de comércio e cultura, onde se instalaram pequenas fábricas e empresas comerciais, e onde residiam juízes, promotores e profissionais liberais. 

“São Pedro do Itabapoana tem sua história marcada por intensa vida cultural e política, destacando-se o gosto pela música, pela leitura, pelas reuniões de caráter religioso ou cívico, eventos que reuniam sempre um número expressivo de pessoas.” (SECULT, 2009).

Vista geral da parte central de São Pedro do Itabapoana - Fonte: Arquivo Pessoal, 2013.

HISTÓRIA - O Dia do Desfecho

Com a Revolução de 1930 caravanas partidárias da Aliança Liberal invadiram o estado do Espírito Santo e cidades importantes foram tomadas. Quando chegaram à capital encontraram-na em abandono pelo governador, onde posteriormente se instalou um novo governo do Estado comandado pelo Capitão Punaro Bley.

Enquanto grande parte do estado estava dominada pelos revolucionários, algumas regiões como São Pedro do Itabapoana se mantinham em resistência ao governo aliancista, o qual enviou tropas para estes locais.

No dia de finados, uma caravana invadiu a cidade e retirou de todas as repartições públicas todos os documentos referentes ao município e, em uma emboscada, levaram a administração à atual sede, Mimoso Sul.

Os habitantes se viram de mãos atadas diante da situação e não puderam reagir, principalmente porque, segundo Balbino Nunes, a maioria da população era composta de imigrantes que temiam serem deportados caso se posicionassem contra o governo (NUNES apud PEREIRA, 2009, p. 26).

Rosinha Caroli e Família - Fonte: Arquivo pessoal de Maurino e Wilma Vasconcelos, moradores de São Pedro do Itabapoana, 2013

A professora Rosinha Caroli (destacada na foto acima) foi quem se levantou na luta contra a retirada da sede da comarca, ela enfrentou os carros armados, pegou a documentação da câmara e a escondeu em sua casa mesmo sendo agredida por isso. Mas seu esforço foi em vão, pois conseguiram  pegar os documentos dela mesmo assim.

São Pedro do Itabapoana se manteve como distrito de Mimoso do Sul e, desde então “a região entrou num processo vertiginoso de decadência política e cultural.” (PEREIRA, 2009).


Uma das edificações de São Pedro do Itabapoana - Fonte: Arquivo Pessoal, 2013.

HISTÓRIA - Patrimônio

Em 1987, anos e anos depois da data que deixou a cidade que já foi a mais importante do sul do estado no esquecimento, o Conselho Estadual de Cultura do Espírito Santo considerou o distrito de São Pedro do Itabapoana patrimônio histórico e artístico, ”reconheceu as marcas daquilo que pode expressar parte da identidade do povo capixaba e de sua memória” (PEREIRA, 2009, P. 35). 

Nesta data, São Pedro do Itabapoana foi tombado como Sítio Histórico e 41 imóveis foram tombados como Patrimônio Histórico e Artístico Estadual.

O processo se iniciou por iniciativa do psiquiatra Pedro Antônio de Souza com o seu retorno a Mimoso do Sul ao encerrar sua faculdade de medicina, em 1978. Pedro Antônio trabalhava a prevenção de doenças psíquicas através da “promoção cultural”, e por isso despertou o interesse em São Pedro do Itabapoana. 

Neste processo ele percebeu o quanto os habitantes de São Pedro estavam presos ao passado, e com isso se interessou ainda mais em buscar o tombamento da cidade. O que lhe chamou a necessidade de preservação do distrito foram a presença dos casarios, a arquitetura, o lugar e seu ar bucólico de uma cidade do interior “parada no tempo”.

Edificações tombadas com patrimônio histórico - Fonte: Arquivo Pessoal, 2013.

HISTÓRIA - O Festival de Inverno de Sanfona e Viola de São Pedro do Itabapoana

Não basta o tombamento e restauração de um imóvel ou sítio histórico para a valorização do mesmo e afirmação da identidade e memória de um povo. Para que isso aconteça, este povo deve se apropriar desde patrimônio e deve enxergar ali a sua cultura.

Em São Pedro do Itabapoana, depois de um processo de restauração e revitalização realizado pela secretária de cultura e o prefeito de Mimoso do Sul, com o auxilio de um grupo de restauradores vindo de Ouro Preto, a cidade estava renovada fisicamente. No entanto ainda faltava uma relação cultural dos São Pedrenses com sua cidade, que esteve inerte por tantos anos.

Foi aí que surgiu a ideia de realizar um festival de sanfona e viola, a secretária elaborou um projeto e o levou até o prefeito, e este foi até Vitória e o apresentou ao secretário estadual de educação e cultura, Genildo Coelho Hautequestt Filho que abraçou a ideia. O Festival foi realizado e acrescentaram no nome a expressão “de inverno” como homenagem aos restauradores de Ouro Preto.

O Festival de Inverno de Sanfona e Viola de São Pedro do Itabapoana foi a forma de apropriação da sociedade para com seu patrimônio cultural, uma festividade que trouxe de volta hábitos de um passado que se perdeu no tempo, e hoje mantém a cidade viva.

Homenagem ao Festival de Sanfona e Viola - Fonte: Arquivo Pessoa, 2013.

Características Urbanísticas - Mapa Figura e Fundo / Evolução Urbana



Análise da Morfologia Urbana

São Pedro do Itabapoana,
um urbano simples e singular


”O patrimônio não é apenas a herança de um povo, ou seja, coisas “mortas no passado” (Sítios arqueológicos, arquitetura colonial, objetos antigos, etc.), mas são, também, bens culturais, visíveis e invisíveis.” Canclini (1994, p.95)
INTRODUÇÃO

São Pedro do Itabapoana cidade hoje pequena, escondida numa região alta e montanhosa, é muito conhecida pelo seu festival da Viola e por receber inúmeros cantores e compositores famosos para tal evento. Quem não conhece nem imagina que esta, um dia, já foi uma das mais importantes cidades do estado do espírito santo, por sua larga produção cafeeira. Sua “idade de ouro” como município é de 1890 a 1930.

Mesmo com muita importância pela produção cafeeira, São Pedro do Itabapoana era uma cidade muito isolada do restante dos distritos, tornando difícil o escoamento de qualquer produto agrícola produzido ali. Foi então, pouco tempo depois, iniciada a construção de inúmeras estradas de ferro na região. Trazendo posteriormente, grandes avanços para a cidade como energia elétrica, dentre outras tecnologias da época.

ANÁLISE
Atualmente, mesmo com todo progresso, o acesso à cidade é ruim, a sinalização até na cidade de Mimoso é precária, a região tem relevo inclinado e a estrada tem muitas curvas, se tornando um pouco perigoso. O acesso à cidade sem um mapa ou ao menos um conhecimento prévio da região, se torna difícil.

Em um impactante movimento revolucionário em 1930, o município foi 'invadido' e lhe foram tomados inúmeros documentos e a comarca foi levada para Mimoso do Sul. Com essa mudança política, alguns dos moradores São Pedro, ligados ao setor administrativo da antiga prefeitura aos poucos se transferem para Mimoso, e a cidade vai se tornando menos povoada.

Hoje em dia, São Pedro é uma cidadezinha pacata do interior do Espírito Santo, com pessoas simples e humildes, e suas casas tais quais seus donos. Os moradores conservam suas edificações como produtos raros. Infelizmente alguns antigos casarões que não foram conservados vieram a ruínas. Conforme conversado com alguns moradores, não há auxílio financeiro nenhum do governo para a conservação das edificações, são os próprios proprietários que mantêm e conservam o patrimônio. Ocorre o processo de tombamento normalmente, mas não se tomam providências para a preservação do imóvel. Recentemente foi realizado um projeto para pintura das casas, da empresa Coral tintas, claro, com o aval do morador. Nem todos aderiram à pintura de suas casas, mas foi uma mudança bem impactante, já que as moradias eram todas coloridas.


Maior parte dos imóveis tombados estão na entrada da cidade, com a conservação do antigo calçamento conhecido como pé de moleque, e também na região alta da cidade. Pode-se considerar mais 'nova' a região mais baixa da cidade, construída com alvenaria convencional. Não há uma diferença exorbitante entre os imóveis antigos e 'novos', o que torna a cidade mais harmônica, se posso assim dizer. O calçamento da área mais nova é feita com bloquetes retangulares, sendo pouco menos trepidante e mais uniforme, diferente da pavimentação do início da cidade.
As ruas são relativamente largas, as principais possibilitam a passagem de dois carros, outras e alguns casos, são bem estreitas, sendo possível somente a passagem de um carro. A região é muito calma e bem ruralizada atualmente, não houve muitos avanços quanto a tipologias arquitetônicas. Boa parte das casas, como quase toda casa do interior tem um quintal grande, na frente (em poucos casos) ou atrás.

A cidade é pouco densa, apesar das casas quase nunca terem afastamento lateral, os fundos quase sempre não ocupados por edificações. As quadras são bem grandes, largas, e pouquíssimo ocupadas.

Das edificações, em sua maioria são casas, pouquíssimos comércios, daquele estilo 'vendinha do seu Zé', que é um cômodo da casa ou um 'puxadinho'. Os moradores quase sempre sentados na porta de casa, vendo o tempo passar ou conversando com o vizinho.



Tendo-se em mente que a cidade já teve grande importância econômica, hoje, ela está esquecida no tempo. Os moradores sobrevivem com o que ganham da ainda produção cafeeira, só que agora em pequena escala. Tudo muito singelo e doce, por assim dizer. A característica marcante do lugar é a beleza da simplicidade. Vive-se de forma bem simples, fala-se de forma simples, talvez um pouco erroneamente, o que não tira em nada a beleza do 'papo gostoso' porta a porta, é simplesmente precioso ter conhecido esse pedacinho um pouco esquecido da nossa cultura.

Iconografia Histórica e Atualizada - Transformações na paisagem.

Confira as imagens que temos de São Pedro do Itabapoana. 

Algumas nós registramos em nossa visita, e outras são imagens antigas que nos ajudam a perceber as transformações através do tempo.